Antes de termos nascido, éramos apenas seres invisíveis sendo carregados
no ventre materno, até que nossa existência fosse descoberta, aí passamos a nos
tornarmos visíveis para alguém. Quando nascemos, começamos a deixar nossa marca
no mundo, mas ainda somos invisíveis para muitos. Quanto mais nossa marca no
mundo cresce, mais nos tornamos visíveis e a consciência de que somos visíveis,
torna-se um vício.
Todos nós queremos ser visíveis; a sensação que se traz é muito forte,
pois nos faz sentir que não estamos sozinhos e parece dar algum sentido maior
para nossas vidas. O problema é quando perdemos o controle disso, acabamos por
fazer até mesmo o ridículo para sermos notados, mas nada que já esteja ruim
está livre de ficar ainda pior... Queremos ser percebidos mesmo que por coisas
vazias e sem significado.
Devemos lembrar que um dia nos tornaremos invisíveis de novo, nossa
marca sob a terra desaparecerá, quase que por completo, até o dia em que
alguém, atento o bastante, perceba a pequena penumbra do que um dia foi uma
grande sombra*.
Não devemos nos preocupar com o tamanho da marca que deixamos no mundo.
Não adianta que ela seja grande, se no final nos tornarmos completamente
invisíveis, esquecidos, inexistentes. Basta que continuemos visíveis para
aqueles que nos são mais caros, caso o contrário, se nos tornarmos invisíveis
até para estas pessoas, tudo o que fizemos não terá significado e será como se
nunca tivéssemos existido.
*Os egípcios antigos usavam a expressão Sheut(Sombra/Estátua) para se referir à parte da alma que corresponde à marca deixada pelo ser humano sob a terra.